terça-feira, 5 de maio de 2015

#Lampejos#

                                              
Os galhos chacoalhavam e belas folhas do abacateiro caiam com o impulso de força maior, mãe natureza que tudo acalenta levando suavemente a folha ao chão, e essa predominância azul celeste que no firmamento parece nos olhar de longe, era sobre isso que eu meditava deitada por entre as folhas outonais no interior de São Paulo alguns anos atrás, quando uma borboleta linda de tom alaranjado e preto pairando sem peso
Sob o ar rodopiando em seu balé natural e em uma tarde trazia a brisa suave
E sob o peso do meu corpo o crunch crunch das folhas secas sendo esmagada, e eu maravilhada a observar uma singela borboleta que sabe se lá quando deixara de ser crisálida e sabe se lá quando deixaria da existir, um ciclo era isso que eu pensava
Será que meu ciclo de dor se intensifica ou  interrompe, eu pensava quando ela tão suave pousara sob minha pele e aquela tromba que ela usa para se alimentar fazendo cócegas a tatear minha pela áspera demais para criatura tão frágil, e apesar de nada dizer, dizia muito, sua metamorfose me fazia crer em uma fé maior, em um ser onipotente, onipresente que feito sentinela vela por cada alma milenar e com esse estado de espírito lembro das palavras que saíram da minha garganta primeiro um sussurro e depois com mais veemência.
Eu quero asas! Eu quero asas!
Não sei quanto tempo ficara ali paralisada em uma antecipação que meu sexto sentido dizia que tudo mudaria, que a vida gira 360 graus, que muda e volta para o mesmo lugar  e que nós inevitavelmente amadurecemos com as dores, e marcas que cada dia trás, Naquela época eu já sabia que tudo o cheiro de terra, o aroma dos eucaliptos, o lago povoado por garças, lontras e capivaras, os troncos, poleiro matutino natural do bem-te-vi que pela manhã e depois da chuva vinha cantar, do tico-tico, do corruira  que fazendo seu ninho vinha nos agraciar com sua pequenez, que cada engrenagem familiar mudaria, que o pomar no fundo da casa onde durante anos eu colhera laranjas em março, jabuticaba em setembro, mangas em dezembro, acerola o ano tudo  isso ficaria pra trás junto com o velho pé de jatobá, que  carcomido ainda resistia a força da idade, amigo que agüentará tantos anos, balanços e crianças, adolescentes e velhos tomarem impulso e confiarem e um sua magnífica estrutura.
A memória hoje não se esquece do solo arenoso de pedras brancas e da vegetação daninha, do perigo iminente de insetos, cobras e lagartos que tanto amedrontava as pessoas vindas da capital, menos eu a garota que chegara uma tarde de setembro em meados de 94 e partiria em meados de janeiro de 2014, vinte anos de amor e respeito por um solo que não me fora herdado, mas que sempre será legado em minha vivida memória e meu eterno e agradecido coração.
Eu fora a filha da floresta por vinte maravilhosos anos, aprendera tanto com a natureza, havia tido animais tais qual mula, cavalo, vaca, cachorro, gato, pato, ganso, galinha, pássaro preto, sabia, gavião e ate cuidado de um beija-flor por uma noite e depois o havia deixado partir, com o mesmo amor a mesma paixão que durante anos fora parte de minha extensa historia, deitada na velha rede sempre na companhia de um ótimo livro, ouvindo o som da minha juventude, a graça do meu desabrochar e me tornar parte de um todo, e essas lembranças serão sempre trazidas do meu subconsciente no momento certo para me levar de volta a verdade, sobre quem eu era, e sobre quem eu me tornara, uma mulher hoje no auge dos seus belos 35, munida de sonhos que se materializam tal qual a força da fé, essa mulher que tantos autos e baixos tenha tido o no esplendor da maturidade almeja coisas simples como paz de espírito, em um espírito livre que almeja o mundo, a arte o belo, cheia de historias pra contar e sonhos em potencial.